Como é de esperar, cada vez há uma maior cobertura de imprensa na indústria com respeito ao impacto dos chineses e sua tecnologia no mercado de insumos de imagem. Para muitos ainda um cartucho compatível é sinônimo de falsificado, ou utilizam o termo “falsificação” como sinônimo de “clone”. Como Indústria e ante a enorme penetração de cartuchos compatíveis asiáticos na região, precisamos entender com claridade os conceitos e as causas que tem impulsionado sua massiva adoção.
Há um grupo de pessoas espetacularmente incompetentes prejulgando a tecnologia do cartucho compatível e aplicando o amplo termo de “clone” a todos os cartuchos novos que vêm à região. A propriedade intelectual presente nos cartuchos de toner e tinta é de uma enorme amplitude e complexidade. Há muito poucas organizações e particulares na indústria de insumos de imagem com um conhecimento suficientemente profundo de propriedade intelectual que rodeia estes produtos como para oferecer uma opinião informada de o que constitui –ou não- um cartucho clonado.
A crítica se dirige a membros respeitados da indústria da remanufatura em quanto a suas posições sobre os cartuchos novos compatíveis versus cartuchos remanufaturados modificados.
Desintermediação: uma tendência inevitável?
Para analisar alguns dos fatores que aceleram a adoção dos cartuchos compatíveis lhes proponho analisar primeiro alguns exemplos que têm dado em outras grandes indústrias, como a do petróleo e o gás, que enfrentam sua própria ameaça por parte de fontes alternativas de provisão e armazenamento de energia. OU a indústria de veículos de aluguel (taxis), com uma ameaça massiva por parte de veículos de condução particular (Uber). OU a indústria hoteleira, com ameaças transformadoras por parte de AirBnB. OU até a própria Eastman Kodak, que se colocou vendas e matou a suas próprias iniciativas digitais que a levaram à bancarrota. Quantos outros exemplos similares poderíamos seguir dando? O ponto é que o mundo está cambiando. Internet o ha cambiado todo. Os principais atores (OEM) podem ser “desintermediados” à medida que se implementem mais e mais tecnologias da informação e se desenvolvem os meios para eludir efetivamente os canais de distribuição tradicionais. Os consumidores estão se convertendo cada vez mais rápido em jogadores facultados para economizar bilhões de dólares!
Cadeia de distribuição OEM superavaliada
Durante uma viagem em 2016 tive a oportunidade de passar umas semanas na Austrália, onde visitei uma plantação de nozes de Macadâmia. Ao conversar com seu dono, me assombrei ao saber que sua produção estava sob o contrato de um distribuidor gigante de produtos de comida, quem lhe pagava apenas 5 dólares por cada quilo coletado. No supermercado teve que pagar mais de 40 dólares por quilo e pela mesma noz. Agora bem, como fez o distribuidor para agregar 35 dólares entre a plantação e a gôndola do supermercado?
Pense em um cartucho de impressora OEM com um preço de venda por menos de 100 dólares, quando somente custa aproximadamente 10 dólares para fabricá-lo. Pense como se controlam os canais de distribuição de produtos de escritório e pense como as OEMs tem mais de 80% de participação no mercado. Pense como essa participação está aumentando à medida que o color assume o controle e diminui o monocromático. Evidentemente neste cenário, não são muito otimistas as perspectivas para os distribuidores independentes, muitos dos quais não tem tido outra opção que adotar os cartuchos compatíveis para enfrentar a situação.
Resulta pouco afortunado para os fabricantes da remanufatura dos Estados Unidos e Europa, que China tenha evoluído até se converter na capital mundial de insumos de imagem para a remanufatura. No entanto, este processo não é recente, começou há mais de 20 anos e é pouco provável que seja revertido. Não há que esquecer que muitos fabricantes levaram suas indústrias a China, com o qual os chineses posteriormente a adotaram e investiram nela. Desde as origens da fábrica da Pelikan na província de Guangdong em meados de 1990 até a associação de Nu-kote com Arnald Ho’s Print-Rite em 1998, a indústria foi entregue à China na bandeja! Com retrospectiva, e tinha sido ou não o correto, agora é irrelevante sua discussão, como o relógio que não pode voltar sua marcha para trás.
Não me interpretem mal. Os cartuchos clonados “reais” são um grande problema. Mas, em primeiro lugar, um clone deve ser corretamente definido já que simplesmente não é correto chamar “clones” a todos os cartuchos compatíveis. A Associação Europeia ETIRA fez um trabalho de primeiro nível sobre este tema em abril de 2012, elaborando uma “Guia para Clones” (publicada na edição 80 da Guía del Reciclador). “Clone” e “falsificação” não são termos que podem se usar indistintamente para descrever um mesmo produto. Há uma característica distinta importante de um produto falsificado e é que se comercializa com a intenção de enganar, já que incorpora tanto a “aparência” de um produto OEM como sua embalagem. No entanto, não se esqueça, durante anos têm tido muitos casos de cartuchos remanufaturados em embalagens falsas, portanto, não necessariamente um cartucho tem que ser um cartucho compatível novo como para ser falsificado.
Tabela Guia para Clones
Examine na tabela acima as três definições de um clone. Observe cuidadosamente as duas primeiras “Aparência muito similar tendendo à confusão, mas não leva a marca original. Tecnologia patenteada substituída por outra inferior (não há infração de patentes)”. Talvez seja “tecnologia inferior”, talvez não, o mercado deve determina-lo. Se os cartuchos novos não infringem patentes de terceiros e não são comercializados de uma maneira enganosa para parecer autênticos cartuchos de marca OEM, então podem ser vendidos livremente e será o mercado quem determinará seu êxito ou fracasso. Se não funcionam nada os comprará, mas isto não lhes dá direito a chamá-los clones. Vejamos também a definição No 4: Compatível “Livre de Direitos de Propriedade Intelectual”. “Aparência diferente. Não se utilizam marcas OEM. Sem vulneração de patentes”. Em outras palavras, este é um compatível legítimo de nova construção, não um clone!
O tema é que não há muita gente com suficiente conhecimento ou qualificação como para determinar se um cartucho de nova construção infringe ou não patentes de terceiros. Os meios de comunicação da indústria não estão capacitados para fazê-lo. Até mesmo se fosse descoberta cada única patente relativa a cartuchos de tinta e toner, lida e entendida pelos fabricantes da remanufatura, então cada uma destas patentes estaria, todavia aberta a interpretações. Como uma OEM interpreta sua patente pode ser diferente a como a interpreta um competidor da remanufatura. Uma disputa de patentes, derivada de duas interpretações diferentes nas reclamações, não significa automaticamente que o cartucho que depende das causas da tecnologia disputada seja corretamente etiquetado como um clone. Apple e Samsung tem estado envolvidas em litígios sobre patentes durante anos isto faz que o Samsung Galaxy seja um clone do iPhone?
Os clones ilegais são ruins para todo o mundo e a falsificação é ruim para todos. No entanto, os titulares enganosos que põem em uma mesma bolsa cartuchos legais com ilegais somente pelo fato de ser de nova construção, também são ruins para todos.
As OEMs e os principais remanufaturadores ocidentais aguardam com ansiedade o fracasso dos cartuchos compatíveis, porque representam a única e maior ameaça para ambos modelos de negócio. Para muitos revendedores independentes (em grande parte surgida como herança de empresas remanufaturadoras independentes) sua melhor oportunidade de êxito é aceitar aos cartuchos compatíveis legítimos e começar a competir com as OEM e com os grandes distribuidores para tirar-lhes algo de participação de seu negócio superavaliado.
Não me surpreende que um a um dos principais especialistas da indústria, quem se toma o tempo para abrir suas mentes e mirar para frente mais que para atrás, não tiveram outra alternativa que reconhecer a legitimidade dos cartuchos compatíveis não infratores, entendendo que estes produtos representam uma oportunidade para que muitos distribuidores sobrevivam em um mercado difícil. Isto não faz estes indivíduos “traidores” às bases ou a “herança” da legítima indústria de insumos de imagem da remanufatura. São de alguma maneira equivalente daqueles agentes de mudanças digitais de Kodak que, lamentavelmente, falharam ao querer romper as barreiras do passado dentro de sua organização quando entrou na espiral da morte e, em última instancia, fracassou.
Fonte: Guia do reciclador.
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